Sudeste Asiático. Período de 1955 a 1975. As seguidas
batalhas no Vietnã contrapõem os principais personagens da chamada Guerra Fria:
Estados Unidos e a extinta União Soviética. Confrontos ideológicos e perdas
humanas à parte - estima-se um número de até dois milhões de mortos -, um
militar norte-americano chama a atenção por sua intervenção, considerada
fundamental para a qualificação do força área de seu país. Trata-se de John
Boyd, cujas contribuições à ciência da Estratégia são difíceis de subestimar.
Começando seus estudos com o desempenho de pilotos americanos que participavam
daqueles combates, ele observou que o que diferenciava os melhores dos piores
era a capacidade de analisar uma situação, tomar decisões e executar suas ações
mais rápido que seus oponentes. O modo de se portar dos pilotos influenciava a
capacidade de alguém ser eliminado ou voltar para casa vitorioso. Tudo isso foi
resumido em uma simples palavra: OODA.
Corte na linha do tempo. Novembro de 2012. O conceito
desenvolvido por John Boyd é tema de artigo de Fábio Zugman, paulistano de 32
anos, professor universitário, doutorando em Administração pela FEA-USP e
Mestre em Administração pela UFPR. Em seu texto, o acadêmico transporta a tese
de OODA para o ambiente do mundo do trabalho. A pedido da FOLHA DIRIGIDA, o
faz, numa segunda versão, especificamente para o universo dos concursos
públicos. Essa seleções constituem verdadeiras 'batalhas', nas quais os
concurseiros, investidos no papel de soldados, partem em busca de conquistas de
territórios na própria carreira. Os confrontos, por vezes, são duros. Os
oponentes, milhares. Centenas deles tombam pelo caminho...
"A sigla OODA significa Observar, Orientar, Decidir e
Agir. Segundo nosso querido coronel, a habilidade de passar por esse ciclo
diferencia o tamanho do fracasso. Um piloto deveria então OBSERVAR a situação
em que se encontrava. ORIENTAR-SE - filtrar as informações relevantes para o
momento. DECIDIR - optar por um curso de ação - e AGIR - executar o curso
planejado. Pilotos capazes de fazer tudo isso rapidamente poderiam vencer
entrando no ciclo de seus inimigos, agindo mais rapidamente e reorientando suas
ações, enquanto seus alvos, ainda presos a uma ação passada, tentavam entender
o que havia acontecido", aponta o professor.
Fábio garante que John Boyd não se limitou à área de batalhas
aéreas. Ele via o OODA como um modo de pensar, tanto que realizou palestras e
apresentações sobre suas ideias, e se baseou em muitos filósofos e outros
estudiosos da natureza humana além de comandantes militares. Além disse, vários
outros autores se basearam nele, de propósito ou até sem saber que esse
princípio surgiu nesse contexto militar. "O OODA é uma ótima ferramenta para
nos ajudar a analisar e focar na situação. Alguém perturbado pelas pressões
exteriores, tão comuns aos concurseiros, pode observar o que exatamente está
incomodando, ver como sua orientação está agindo, decidir agir de modo
diferente e, por fim, optar por uma linha de ação que o aproxime de um bom
resultado. Partindo deste processo reflexivo, você pode planejar melhor seu
ambiente, seus estudos e até as informações que opta por olhar em um
determinado momento".
Participar de um concurso, em certa medida, é como disputar
uma ‘guerra’, estando o candidato cercado por rivais, seus concorrentes às
vagas. Neste sentido, quais outras ‘táticas’ de combates poderiam favorecer os
concurseiros, especialmente aqueles que sofrem em demasia exatamente pela alta
carga de competição do processo? Como olhar para si mesmo, avaliar seu
desempenho, seus acertos, dificuldades, erros e traçar o melhor e mais seguro
plano de voo?
"A competição nem sempre é ruim. Apesar de muitas vezes
reclamarmos dela, é a competição que nos faz realizar aquele esforço cada vez
maior para sermos melhores do que somos hoje. O que John Boyd quis ensinar com
o OODA é que a vitória em uma competição não depende de quem tem os melhores
equipamentos ou recursos. A vitória é alcançada através de uma boa postura
mental, foco, e realização de ações que te deem vantagens em relação à
competição. Os ciclos do OODA nos ensinam que não há uma grande vantagem contra
a concorrência, mas sim o acúmulo de pequenas vantagens ao longo do tempo que
nos tornam melhores ou piores. Nisso, alguém que consegue se programar melhor
que a concorrência, perder menos tempo tanto na parte dos estudos quanto na
realização de provas, manter a cabeça limpa de outras influências, com certeza
se sairá melhor que outros que tenham processos mentais menos claros",
explica Fábio Zugman, autor de diversos livros, como O
mito da criatividade (Elsevier, 2008), Empreendedores
esquecidos (Elsevier, 2011) e Criatividade sem segredos (Atlas,
2010).
No aspecto geral, a conduta do OODA defende que as pessoas
adotem os seguintes procedimentos: passo número um: pare. Tire um dia, uma
hora, um momento, mas pare. Parou? Ótimo. Agora observe a situação em que você
se encontra. Você pode avaliar sua vida pessoal, profissional, sua empresa e
até o conjunto da obra, mas apenas observe. Retire-se da situação e encare suas
ações, as de outras pessoas e participantes do mercado e tente entender o que
está acontecendo. Agora, oriente-se. Quais informações você precisa ter para
decidir? O que está te atrapalhando? Com o que vale e com o que não vale a pena
se preocupar? Com base nas respostas, decida o que fazer. Simples assim. Após
observar e orientar, você tem que decidir. Pare de enrolar. Se houvesse
realmente um avião armado vindo em sua direção você não iria ficar sentado
pensando. Por último, a ação. Faça alguma coisa. Se não souber o que fazer,
faça qualquer coisa, por menor que seja. O importante é agir o mais rápido
possível. Sair da zona de conforto, deixar de ser um patinho sentado no meio do
radar do inimigo e começar a mudar sua situação.
Tudo muito bom, tudo muito bem, ao menos na teoria. Mas, como
executar essas ações num cotidiano em que quase todos estão estressados,
cansados, espancados pela concorrência e perdidos, sem saber o que fazer?
"É exatamente ao contrário. Imagine que o OODA foi proposto em um contexto
militar, em que pode haver um míssil vindo em sua direção e há somente alguns
segundos entre a vida e a morte. Diante disso, os meses que as pessoas
geralmente têm para se preparar para uma prova ou qualquer outra mudança
parecem uma eternidade. Quem reclama de 'falta de tempo', na maioria das vezes,
possui um grande problema de falta de organização, de foco e de objetivos
claros. Tudo isso pode ser conseguido se a pessoa passar a observar a situação
em que se encontra, questionar o que está fazendo, se orientar e ver o que
realmente importa. Muita gente liga o 'piloto automático' na vida, simplesmente
deixando as coisas acontecerem... Por isso é vital desenvolver a capacidade de
decidir o que fazer e assumir a responsabilidade por tais decisões, que serão
mais acertadas e rápidas se baseadas no conceito do OODA", conclui Fábio.
E aí piloto? O curso definido está certo ou é chegada a hora
de refazer a rota?
Por Paulo Chico
Fonte: Folha Dirigida
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