Bem-humorado, comunicativo e persuasivo
na medida: este é o perfil de muitos professores espalhados Brasil afora e que,
graças ao carisma e talento para a transmissão de conhecimento, colecionam um
número, cada vez maior, de alunos que são verdadeiros fãs de suas aulas. O
segredo? Aliar a paixão pela profissão à postura de um profissional
diferenciado pela forma de se posicionar à frente de uma turma de estudantes. E
o resultado não poderia ser outro: professores que se tornam mestres na arte de
ensinar e, ao mesmo tempo, fazer rir.
É tênue a fronteira entre a transmissão
do conteúdo mediado por histórias e piadas relacionadas ao assunto e uma aula
stand-up – na linha do popular gênero teatral de comédia em pé. É necessário
saber dosar para não deixar que o conhecimento se torne um mero coadjuvante. É
preciso lançar mão do humor em função da aprendizagem – o que está longe de
simplesmente transformar a aula numa palhaçada. “É importante fazer com que o
aluno se divirta usando o conteúdo. O professor tem que saber contar piada no
meio do aula, utilizando aquele determinado assunto para gerar entendimento e
reflexão. Até porque a hora do humor gera uma certa euforia... Como
contraponto, é necessário usar a seriedade depois disso, exatamente para focar
no tema e fixar a disciplina”, aponta o professor de Aprendizagem e Temas
Motivacionais, Felipe Lima.
Saber maneirar nas brincadeiras e
evitar termos pejorativos. Esses são dois cuidados básicos a serem tomados se a
decisão for apostar numa lição regada à descontração. O professor de Português
e Redação Rômulo Bolivar, por exemplo, reforça que todo o cuidado é pouco na
hora de conduzir a aula. E que é um risco desnecessário pecar pelo excesso de
‘gracinhas’ – não, esta não é uma referência ao adjetivo mais repetido pela
saudosa apresentadora Hebe Camargo... Tá vendo só? Essa matéria acabou de
apresentar uma piadinha infame, apesar de tratar de um assunto sério. Agora, já
pensou se ela fosse escrita o tempo todo assim?
“Eu prefiro falar de mim. Conto dos
micos que já paguei, de histórias engraçadas da minha vida e uso, inclusive,
minhas dificuldades pessoais para que eles entendam melhor a mensagem que eu
quero passar”, explica Rômulo Bolivar. Certo é que entrar em sala de aula com
uma postura sisuda ou arrogante só faz com que os alunos respondam a estes
estímulos com bocejos e resmungos durante o processo de aprendizagem.
“Geralmente, professores assim acham
que a comunicação feita com humor irá comprometer a qualidade da mensagem, por
não entenderem o papel do humor na comunicação ou talvez por uma questão de
condicionamento cultural”, atenta Mario Persona, escritor, palestrante e
professor de estratégias de comunicação. Achar graça desperta a atenção do
aluno. Faz com que ele registre aquele momento, em que o conteúdo foi
transmitido com humor, como uma passagem agradável. O cérebro humano trabalha a
favor dessas sensações. Recordar assuntos registrados pelo viés cômico é tão
fácil e agradável quanto decorar a nossa música favorita. Assim, fica bem mais
fácil lembrar daquela fórmula matemática. Inclusive no dia da prova...
Para provar que o senso de humor, de
fato, não é “história para boi dormir” quando o assunto é fixação de conteúdo,
o respaldo encontra apoio científico. O princípio do absurdo, uma ideia da psicanálise,
trabalha com três vertentes que potencializam a capacidade de armazenamento de
informações: a terceira delas é a vulgaridade, a segunda o nojo, pelo que gera
de repulsa, e a primeira e principal é a diversão. Tudo que é engraçado provoca
uma emoção diferenciada por lapsos nervosos.
"O hemisfério esquerdo trata a
informação com rigor, retendo uma parte muito pequena na memória, enquanto o
hemisfério direito é mais liberal, guardando tudo o que lhe agrada. Por isso
temos uma boa memória musical e somos capazes de contar uma piada de uma página
com todos os detalhes, apesar de termos escutado seu texto apenas uma vez, e
anos antes", explica Mario Persona.
Um novo padrão de relação com os alunos
Um novo padrão de relação com os alunos
Estreitar relações, alimentar sonhos e
arrancar boas gargalhadas parece ser mesmo a receita perfeita para o professor
Felipe Lima. Prova disto é que a admiração por parte dos alunos vai muito além
das quatro paredes que compõem as salas da rede LGF de ensino. São mais de 22
mil seguidores acompanhando o cotidiano de Felipe através do microblog Twitter.
Ele aproveita o espaço para estimular seus alunos na busca de seus objetivos.
E, na rede social, alimenta a discussão sobre os mais diversos assuntos, quase
sempre através de vias cômicas.
“O professor tem a chance de motivar o
aluno todos os dias. Para isto, a aula precisa ser interessante, dinâmica,
envolver recursos audiovisuais. O melhor professor não é aquele que ensina, mas
aquele que inspira. Aquele que faz com que o aluno saia de sala com vontade de
estudar ainda mais”, revela Felipe.
Já Rômulo não pensa duas vezes antes de
chegar ao local de trabalho com um sorriso estampado no rosto. Para ele, que
trabalha com alunos focados em concurso público há mais de dez anos, o tempo
ensina a melhor forma de se comunicar, mas o talento nato conta pontos a favor.
“O importante é ser honesto consigo e
com os alunos. Além disso, o bom humor, de fato, ajuda bastante! Principalmente
nas aulas voltadas para esses alunos, que buscam uma oportunidade de ingressar
na área pública. As pessoas que estão ali, além de alunos, são pais, mães,
funcionários, encaram jornadas duplas e, algumas vezes, tripla, ou seja, têm
outras responsabilidades e o conteúdo não pode competir com esses outros
compromissos, senão ele perde. Por isso, o bom humor ajuda o aluno a se afastar
desses compromissos, trazendo-o mais relaxado para esta zona de conhecimento”.
Mas outros recursos, não menos
poderosos, também devem ser levados em consideração na hora de ensinar. Ainda
de acordo com o escritor Mario Persona, analogias, parábolas e metáforas também
são ferramentas extremamente importantes na comunicação de conceitos. “No caso
do professor, fica evidente que o uso de parábolas e analogias é uma forma de
fazer um assunto complexo caber na faixa de compreensão de seus ouvintes. Até
os problemas básicos de aritmética usam elementos visíveis e palpáveis para os
alunos, como laranjas ou maçãs. Apelam para o lúdico”, complementa.
Felipe Lima compartilha da mesma
opinião. O professor aproveita as situações corriqueiras do dia a dia para
extrair e gerar conteúdos, sempre relacionados às disciplinas lecionadas em
sala. “A experiência diária é maravilhosa porque é muito rica. É uma troca. São
coisas que acontecem com os alunos também e que são usadas como exemplos
práticos e faz com que eles se identifiquem com o ocorrido e lembrem com
facilidade sobre o assunto na hora da prova”, conclui.
Por Thalita Gois
Fonte: Folha Dirigida
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