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sábado, 21 de janeiro de 2012

De gênio e louco todo mundo tem um pouco

           Foi publicada, na revista Veja, uma reportagem acerca de um grupo de jovens geniais, todos universitários ou recém-formados, cujas médias escolares raramente ficavam abaixo de dez, e tidos pela publicação como “os mais talentosos de sua geração”. O que eles tinham em comum, além da genialidade? Todos foram selecionados para participar de um programa de bolsa de estudos concorridíssimo, ao qual estudantes de histórico escolar mediano nem podem sonhar em se candidatar.

          A trajetória dos jovens contemplados com as bolsas da Fundação Estudar, alguns vindos de escolas públicas e com histórias de superação na bagagem, é sem dúvida admirável e prova que o esforço, quando aliado ao talento, torna-se imbatível. No entanto, é no mínimo ingênuo acreditar que, no grupo das pessoas mais talentosas de toda uma geração, existam exclusivamente ex-alunos brilhantes. E não pára por aí: a matéria ainda diz que, uma vez no mercado, estudantes assim seriam “de longe, os mais produtivos e inovadores”. De acordo com essa formulação (e com os artigos definidos usados), Bill Gates e Steve Jobs, desertores nos primeiros anos de universidade, jamais poderiam ser símbolos de inovação em qualquer coisa. E o que dizer de Charles Darwin, que confessou em sua autobiografia: “Eu era tido por todos os meus professores como um garoto comum e intelectualmente muito abaixo da média”? Para não falar de Thomas Edison, que era considerado na escola um aluno inepto e incapaz para o aprendizado.

          Obviamente, a intenção aqui não é desmerecer a educação formal nem fazer apologia dos maus alunos, até porque os exemplos enumerados acima representam uma honrosa exceção à regra. Eles estão aí apenas para provar que nem sempre uma tendência, por mais forte que seja, se confirma na prática; para mostrar que um passado de decepção não pode ser usado como desculpa por aqueles que não querem consertar o seu presente; e, enfim, para derrubar de uma vez por todas a teoria de Beto Jamaica, de que “pau que nasce torto nunca se endireita”.

          É um tanto despótica a forma como o mercado parece exigir cada vez mais das pessoas uma história de sucesso precoce, uma trajetória de vida prematuramente próspera, e subestima aqueles que, por qualquer motivo, não possuem desde cedo um currículo de êxitos e grandes realizações para apresentar.

          O outro lado da moeda dificilmente é visto. Os grandes homens mencionados acima fracassaram como alunos e, até um determinado momento da vida, fracassaram como profissionais. Por conta disso, tiveram o seu potencial subavaliado. No entanto, utilizaram as humilhações e as derrotas como uma das grandes forças propulsoras para o seu crescimento individual. Eles entenderam que o fracasso de ontem pode tornar-se o catalisador do sucesso de amanhã.

          É possível dizer que conhece melhor a verdadeira dimensão da vitória aquele que soube reconhecer a exata magnitude da derrota. E mais: o sucesso depois de uma série de fracassos tem um sabor diferenciado. Se você come caviar todos os dias, um a mais, um a menos não vai fazer muita diferença. Mas se você vem há algum tempo se alimentando exclusivamente de maxixe e abóbora, sabe a diferença que faz.

          Apesar disso, é curioso notar que sempre há quem procure varrer as decepções e frustrações para baixo do tapete, recusando-se a aceitar o momento da ”maré baixa” e deixando, assim, de assimilar as valiosas lições que esse momento pode oferecer. Eu conheço um cara que faz concurso público há pelo menos uma década, sem nunca ter sido aprovado. Mas também, até onde eu sei, sem nunca ter estudado. Ou, pelo menos, estudado sério. Sempre que ele é reprovado em algum certame (o que acontece quase toda semana), em vez de aprender e se convencer definitivamente de que é praticamente impossível passar só na base do chute, ele fica esnobando o concurso e o cargo, com frases do tipo: “Ah, Receita! Ainda bem que eu não passei, tenho pena desses coitados que trabalham cobrando impostos dos outros”. “INSS? Não devia nem ter feito a prova. Não tenho a menor paciência com aqueles velhinhos que vão atrás de aposentadoria!”. Quando ele soube da reprovação no último concurso da PM de Pernambuco, saiu-se com esta: “Eu nem queria assumir mesmo. Meu interesse era apenas fazer o curso preparatório para aprender as técnicas de autodefesa. Hoje em dia, a violência tá tão grande!”. Bem, esse pode até não ser gênio, mas louco...

          O problema é que, dependendo da carreira que se almeja seguir, nem sempre aqueles que perderam oportunidades vão encontrar uma segunda chance. Quem quer entrar numa multinacional através de um programa de trainee, por exemplo, geralmente não pode ter mais do que 26 ou 27 anos. Não importa quão bom você seja: passou disso, já era. A mesma coisa acontece se você terminou a faculdade depois dos 40. O mercado estará resistente a recebê-lo. E não vai estar nem aí pra sua história de vida, para as suas dificuldades, sua luta e todo o sacrifício que você já fez e continua disposto a fazer.

         É por essas e outras que a instituição do concurso público é uma das mais democráticas que existem em nosso país. E quanto mais ela é ampliada, aprofundada, difundida e defendida, mais a democracia é consolidada em solo brasileiro. Não importa se você não foi um aluno excepcional. Não importa se você matava todas as aulas. Não importa se todas as suas tentativas de ser bem-sucedido até agora falharam. Não importa o que aconteceu lá atrás. Para a maior parte dos concursos públicos, você pode recomeçar quando quiser. A não ser, claro, que você tenha passado dos 70, por expressa vedação constitucional.

          Uma coisa é certa: a prova do concurso não vai querer conferir as notas do seu histórico escolar, não vai estar nem aí para o status da universidade onde você se formou, nem vai lhe pedir um currículo ornamentado de nomes de multinacionais. Antes, ela vai cobrar de você estudo sério, comprometimento, equilíbrio, foco, estratégia, disciplina, concentração, fé, autoconfiança. E isso qualquer um pode colocar no currículo em qualquer momento da vida. Inclusive agora.

Autor: Marchezan
Fonte: Site Ponto dos Concursos
Link: http://www.pontodosconcursos.com.br/artigos3.asp?prof=336&art=6243&idpag=2

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