Você já foi ou costuma ser
vítima da tentação da dispersão, enquanto está empreendendo seus estudos para o
concurso público? Como isto se
manifesta? Como evitar ou neutralizar e quais osprejuízos que pode causar?
O objetivo do presente texto consiste do desenvolvimento de
algumas considerações sobre este perigoso fenômeno.
Primeiramente vamos à descrição.
No que consiste e como se
manifesta essa tentação da dispersão?
A
tentação da dispersão trata-se do fenômeno que ocorre quando estamos estudando
e nos vem à mente pensamentos que não guardam relação com o objeto de estudo.
Daí nos rendemos a tais pensamos e
embarcamos na viagem que ele nos convida a fazer. Por vezesvamos longe, nos distanciando
completamente daquele objeto de conhecimento com o qual estávamos mantendo
contato. Geralmente, embarcar nesta viagem de
dispersão nos proporciona alguma sensação agradável, sendo que,
na realidade, o fato de estarmos nos dando
algum alívio ou proporcionando tal sensação passa a ser um complicador a mais.
Também é possível que a tentação da dispersão se
manifeste por meio de atitudes.
Mas
no caso do pensamento, poderíamos parar para indagar: por que por vezes pensamos em
algo que aparentemente não tem qualquer relação com os estudos?
No
fundo, a causa do problema é a solução para as mais relevantes necessidades
que temos ao longo da preparação para concursos públicos: a lógica associativa do
funcionamento cognitivo, principalmente da memória.
Ou
seja, quando lembramos de algo de
forma não voluntária, consciente e planejada, é porque tivemos contato com alguma
informação ou experiência relacionada ao pensamento que foi recordado.
(Clique
aqui para ler Como usar a Lógica Associativa da Memória nos estudos)
O neurologista Antonio Damásio relata uma situação na qual repentinamente e de forma não
planejada lembrou de um amigo. Daí começou a refletir o motivo de ter aparecido
à mente a imagem do amigo, já que não havia, aparentemente, nada relacionado a
ele. Intrigado com a situação e avançando na reflexão, descobriu que havia
acabado de se movimentar em sua casa, andando de um modo parecido com o amigo.
Ou seja, a atividade psicomotora e
inconsciente disparou o mecanismo associativo, que provocou a evocação da
imagem do amigo(Damásio, Antonio R. E o cérebro criou o homem. São
Paulo: Companhia das Letras, 2011, págs. 136/137).
Com
isto, constatamos que, até mesmo de maneira
inconsciente podemos ser provocados a ter pensamentos desvinculados dos estudos.
Tudo por conta do mecanismo associativo.
Assim,
na realidade, a tentação da dispersão
consiste num estímulo, em termos de pensamentos ou eventos externos, que passam
a ter mais relevância que o estímulo eleito como alvo, ou seja, o objeto de
conhecimento a ser estudado.
Neste
sentido, vale lembrar que a concentração consiste numa
função cognitiva primária, a qual se sujeita a uma lógica de seletividade de estímulos.
Isto é, me concentrar significa
desconsiderar determinados estímulos para valorizar aquele que elegi.
Por
outro lado, ainda conforme a referida sistemática cognitiva, os fatores de desconcentraçãopodem
ser endógenos, que
seriam os pensamentos que produzimos, ou exógenos,
correspondentes aos estímulos externos-ambientais. Daí porque o local de estudo
deve ser escolhido com bastante cuidado.
Portanto, a tentação da dispersão
consiste num estímulo muito forte e relevante, que nos toma de
forma significativa, aparentemente irresistível, bem como tentadora, tirando
nosso foco atencional do objeto de estudo.
No caso dos portadores do transtorno de déficit de atenção e
hiperatividade – TDAH, este fenômeno ganha um status patológico e conta com
causas de natureza neufisológicas e bioquímicas. Exatamente por isto, a
intervenção medicamentosa pode ser necessária. Mas obviamente que pressupondo
um diagnóstico preciso, responsável e com a atuação de profissional habilitado.
Estabelecidas
as mencionadas premissas a questão que se coloca é: mas como combater ou neutralizar as
tentações da dispersão?
Conforme
venho sustentado reiteradamente, o primeiro passo é tomar
consciência do fenômeno. Não
apenas tomar consciência, mas também entender o seu funcionamento.
Isto
é, se estou sendo atentado à
dispersão é porque há um estímulo que está tentando furtar meu foco atencional,
sendo que eu havia eleito como objeto da atenção o estímulo correspondente ao
estudo. E mais, este estímulo tentador não veio
do nada nem de graça, ou seja, sendo um pensamento, foi
determinado pela atuação do mecanismo associativo.
Mas para reverter a presente situação considero que há duas atitudes principais a serem
consideraras. A primeira seria, conscientemente e ciente do funcionamento do
presente processo, tentar ignorar o estímulo e
retomar o estudo. Ou seja, se sei que estou sendo tentado
por um pensamento indevido, não vou alimentá-lo e retornarei ao meu estudo.
O
segundo, um pouco perigoso, seria
enfrentar. Na caso, também por meio de um processo consciente, procura-se entender a causa de
origem do estímulo, se convence de que não faz sentido o valorizar e retorna-se
ao estudo. Repare que no caso não se ignora, mas procura-se
entender a origem, como caminho para o ataque e neutralização. Porém, é preciso ter cuidado para não
alimentar o estímulo e embarcar na viagem prazerosa para a qual somos tentados.
Como
estratégia secundária, também caberia usar alguma muleta.
Uma primeira seria, diante do aparecimento da tentação, adotar o famoso “só por agora não vou
dispersar”, “só por este minuto não vou dispersar”, “só por esta hora não vou
dispersar”.
Outra
seria adotar um objeto, como aquelas bolinhas de apertar, para usar no momento
de surgimento da tentação, inclusive criando um emparelhamento de estímulos,
ou seja, quando a tentação vier, aperto a bolinha e retorno ao foco atencional
correspondente ao estudo.
Vale
lembrar, conforme alertado em outros textos, que também é preciso trabalhar os
fatores ambientais. Ou seja, é importante buscar um local de estudo adequado, o
qual não proporcione estímulos externos, e no deslocamento já
tentar evitar a sujeição a estímulos relevantes, como no caso de determinadas
músicas, conversas ao telefone ou rádio de notícias.
Naturalmente que é possível construir outras estratégias.
Inclusive, se tiver, peço que deixe a sugestão e dica em forma de comentário.
Mas
o fundamental é dominar a
tentação.
Bom estudo e cuidado com as tentações!
Autor: Dr. Rogerio Neiva
Fonte: Blog do Professor Rogerio Neiva
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