Já são quase sete
da noite, e sua cabeça dói. Nem podia ser diferente, depois de um dia
como aquele... Na empresa, problemas e cobranças do chefe, desde cedo.
Estresse. Encerra o expediente e começa o trânsito engarrafado. Duas horas
de congestionamento. Essa fila não anda? Suas costas doem. Você está
tenso. Finalmente, consegue chegar em casa.
Imediatamente,
como quem troca um chip de computador, seus pensamentos se voltam agora
em outra direção: Preciso começar os estudos! Afinal de contas, você é um
batalhador nato! Já assumiu sua condição de concurseiro! Precisa ser
aprovado o quanto antes, pois sonha em melhorar o seu salário e a qualidade
de vida da sua família.
O fato é que,
naquele mesmo ritmo acelerado em que entrou em casa, você simplesmente se sentou
à mesa, abriu aleatoriamente um livro de Direito e começou a estudar. Mal havia
chegado à segunda página, e reparou que – misteriosamente – não se
lembrava do que havia lido nos cinco últimos parágrafos. Não se deu por
vencido. Voltou ao ponto em que havia se desconcentrado e retomou a leitura.
Sua cabeça ainda
doía. As buzinas do trânsito pareciam ainda ressoar em seus ouvidos, e
suas costas pesavam toneladas. Após quase três horas ininterruptas de
estudo, e de incontáveis acessos de desconcentração, seu poder de
assimilação se esvaíra por completo.
Você, Leitor, já
se deparou alguma vez com uma situação semelhante a esta?
Se for o caso,
meus parabéns! Minhas mais sinceras felicitações! Por quê? Porque você demonstrou
coragem, determinação, obstinação! Qualidades inerentes aos que querem
vencer!
Infelizmente,
estes atributos raros não estão sendo utilizados de modo apropriado. Em
outras palavras, a qualidade do seu estudo está prejudicada, o que implica
falta de rendimento, baixo aprendizado, cansaço mental, físico e
emocional. Em uma palavra: desgaste.
As conseqüências
desta prática de estudo, a médio prazo, podem ser desastrosas, e levá-lo até
a desacreditar em sua própria capacidade de enfrentar um concurso com
sucesso.
Agora a boa
notícia: há décadas que estudiosos das mais diversas áreas – professores,
pedagogos, psicólogos, médicos – aprofundam-se na questão do aprendizado.
Incontáveis pesquisas foram e continuam sendo realizadas, no sentido de
descobrir os mecanismos que podem levar uma pessoa a conseguir otimizar
seus níveis de concentração e de memorização, durante uma sessão de
estudo.
E muito já foi
descoberto! Nas linhas seguintes, convido o Leitor, humildemente, a
despojar-se de conceitos pré-concebidos, e a fazer-se criança novamente.
Por que isso? Por uma razão interessante: as técnicas que apresentarei a
seguir, a fim de potencializar a qualidade de seu estudo, são de uma simplicidade
tal, que é bem possível que você, se não estiver imbuído de um espírito lúdico,
sequer se disponha a pô-las em prática. A criança acredita no que é
simples, porque ela vê as coisas com simplicidade. Vamos tentar fazer isso!
Pode ser? Ótimo!
E já que voltamos
à infância, que tal brincarmos do jogo dos sete erros? Vamos tentar
localizar os equívocos que a pessoa do início do texto cometeu, e que a
levaram a uma noite de estudos pouco proveitosa. À medida que os
identificarmos, apontaremos as técnicas – ou soluções – indicadas a corrigi-los! Ok?
Vamos lá! Quem consegue encontrar os sete erros?
1º Erro) Ele
esqueceu que havia uma família para abraçar!
Ora, o sujeito
passou o dia inteiro fora, lidando muitas vezes com pessoas estranhas, que não
lhe têm afeto, estima, apreço. O ser humano é feito de sentimentos! Ele
precisa se sentir amado e acolhido, ao menos quando chega em casa! É
importante que ele abrace os seus filhos, brinque um instante com eles,
sorria junto, olhe em seus olhos! Isso o irá fazer sentir-se até mais motivado
para os estudos! Um carinho da esposa ou do marido também é bem-vindo
nesta hora. Claro! Se não existirem filhos ou cônjuge, abrace seus pais,
ou seus irmãos. Se não houver ninguém, abrace o seu cachorro. E se não houver
cachorro, compre um. Pode ser também um gato, um periquito, um papagaio... O
concurseiro não pode se esquecer jamais de que também é gente!
Após esta chegada
propriamente dita, convém que você se lembre da sua respiração! É
impressionante
como ninguém, afora os monges tibetanos, pensa na respiração. Mas você vai
pensar nela. Durante o banho e a refeição leve que devem se seguir, você
vai tentar manter um ritmo constante de respiração um pouco mais profunda,
e com isso você já vai se preparando, paulatinamente, para cumprir o
próximo passo e evitar o erro que veremos na seqüência.
É chegado, enfim,
o momento de se lançar ao conhecimento! Então não esqueça de avisar a
todos de casa: Agora eu não estou para ninguém! Peça que anotem os recados
e que não o interrompam.
2º Erro) Ele se
esqueceu de inicializar o cérebro para os estudos!
Um dos erros mais
comuns, e talvez o mais grave deles! Quando você liga o computador, já consegue
sair imediatamente trabalhando com ele? Claro que não! Tem que esperar alguns
instantes, até que a máquina seja inicializada! Naqueles momentos, os
programas do seu micro estão se preparando para começar os
trabalhos!
Neste sentido,
assim também é o seu cérebro! Quando você chegou em casa, em alto grau de agitação,
seu cérebro funcionava em ondas beta. Traduzindo: ele estava em alvoroço, quase
fervilhando. Um grande pesquisador do cérebro, o Dr. Lozanov, búlgaro,
demonstrou que, neste estado de inquietação mental, não se atinge mais que
25% do nível de concentração possível em uma leitura ou estudo.
Aqui está a grande
descoberta: é preciso preparar o cérebro para a atividade intelectual. E comose
faz isso? Por meio de uma breve sessão de relaxamento. É muito simples: você
irá sentar-se preferencialmente em uma poltrona, o mais confortavelmente
possível, e durante cinco a dez minutos, ouvirá um pouco de música
clássica. Mozart, Vivaldi e Bach são os mais indicados. Enquanto isso,
você estará de olhos fechados, concentrando-se na sua respiração, e
tentando mantê-la profunda e constante.
Continue
respirando, respirando, respirando. Se quiser, pode ainda repetir baixinho esta
ordem: Relaxe, relaxe, relaxe... Quando sentir que a música o envolveu e
que você já saiu, de fato, daquela agitação inicial, então podemos dizer:
seu cérebro foi inicializado. Somente agora você está pronto para começar os
estudos!
A técnica aqui
apresentada é de origem científica. É inacreditável como algo tão simples
poderá revolucionar positivamente o seu aprendizado! Após este
relaxamento, diz o Dr. Lozanov, você será capaz de alcançar níveis de
concentração de 95% ou mais.
3º Erro) Ele se
esqueceu de preparar a mesa de estudos!
Suponhamos que
naquela noite o nosso amigo resolveu estudar o Direito Constitucional.
Para tanto, começou a leitura com apenas um livro sobre a mesa. Ocorre que
ele possui três bons livros desta disciplina, além de uma boa apostila e
da própria Constituição Federal.
Ora, ninguém vai à
guerra sem levar todas as armas! Embora você julgue que só vai precisar
de um livro, ponha todos eles (daquela disciplina) sobre a mesa. É bem
possível que resolva complementar sua leitura com algum outro autor. E se
não o encontrar ali, à sua frente, isso implicará interrupção! Um prejuízo
de, no mínimo, quinze minutos, até que seu cérebro volte a atingir o mesmo
estado de concentração de antes.
O mesmo ocorre com
quem esquece de pôr uma jarra de água bem próximo. É só começar o estudo e
é uma sede desgraçada! Sem água por perto, a interrupção é certa. E
interrupção, já sabemos, é inimiga mortal da concentração!
4º Erro) Ele se
esqueceu de fazer os resumos de estudo!
Nós vimos que
aquele rapaz apenas lia. O estudo que consiste da mera leitura não é propício
a uma boa memorização. Comprovadamente, já se sabe da existência da
seguinte escala: quem lê e sublinha as frases cruciais do texto memoriza
mais que aquele que apenas lê; quem lê e sublinha com marcadores coloridos
memoriza mais que quem apenas lê e sublinha de uma cor só; quem lê,
sublinha colorido e faz um resumo da essência do que leu memoriza mais que
todos os outros!
E a memorização
tanto se prolongará mais pelo tempo – e isso é deveras desejável – quanto
mais forem criativos aqueles resumos! Usar fichas é muitíssimo
interessante! Mas pode ser com folhas de caderno também. Não vamos
complicar! Convém apenas que eles, os resumos, sejam bastante coloridos, cheios
de símbolos e abreviaturas. Nada de frases compridas. Nada muito linear.
Circule as palavras. Puxe setas ligando uma idéia à outra.
E o que é muito
importante: não encha demais a sua ficha, ou a sua folha de caderno. Uma ficha-resumo (ou
folha-resumo) é como um telegrama. Ninguém vai dizer: Mamãe, finalmente, após
todos esses meses, eu irei visitá-la. Vou tomar o trem das onze e só devo
chegar aí amanhã, de manhãzinha cedo, no crepúsculo matutino. Nada disso!
Você dirá apenas: Mãe, tomo café amanhã aí. Pronto! Resumo prolixo não é
resumo!
E resumo bem feito
é sinônimo de boa memorização!
5º Erro) Ele se
esqueceu de cronometrar o tempo!
Vocês repararam
que o sujeito estudou três horas, ininterruptamente! Cometeu um crime
contra seu cérebro! O estudo correto precisa ser, necessariamente,
intercalado. Como funciona? Assim: você chegou para estudar, e já cumpriu
a sessão de relaxamento que aprendemos há pouco. No instante em que você
vai começar o estudo, verifique que horas são e marque o tempo. Não é
conveniente que seu estudo se prolongue por mais de cinqüenta minutos ou
uma hora.
Se você estiver
atento, perceberá que seu rendimento sofrerá uma queda, após aquela
primeira hora de estudo. A leitura não continuará fluindo, como estava até
então. O que terá havido? O motor esquentou! Só isso! E a solução é simples
e única: é preciso fazer um intervalo.
Cuidado: esta
parada não pode se estender por mais de quinze minutos. Muita gente divide a
hora em 50 minutos para o estudo e 10 para o intervalo. Pode ser
feito!
Agora o mais
importante de tudo: naqueles minutos de intervalo, você precisa se retirar do
local do estudo. Se for um quarto, saia dele e feche a porta! É crucial
que você abandone o ambiente em que estava estudando. Somente assim,
mandará ao cérebro a mensagem de que ele já pode descansar um pouco, e se
refazer.
Essa técnica é
absolutamente essencial para uma boa memorização dos conteúdos!
6º Erro) Ele se
esqueceu de fazer a caminhada!
Vimos que o
infeliz rapaz tem uma vida por demais atarefada. É só trabalho, estresse,
aborrecimentos.
Ora, como se pode esperar que uma pessoa assim consiga ter um estudo
prodigioso?
Não se pode
esperar um bom rendimento intelectual, se o indivíduo se sente mal
fisicamente.
Ademais, o cérebro
humano – e todas as nossas células – são movidas a oxigênio! É preciso oxigenar
o cérebro, para dar-lhe boas condições de trabalho!
Um senhor de
memória prodigiosa, digo, de memória muito bem treinada, chamado Dominik O’Brien,
várias vezes campeão mundial de memorização, revela que fazia sempre uma
corrida de dez quilômetros, na véspera dessas grandes competições que
participava. Ele mesmo também confessa que, antes de começar a treinar sua
memória, era incapaz de memorizar até um número de telefone!
Estudos recentes
mostraram que uma simples caminhada de quarenta minutos, durante três
vezes na semana, pode aumentar em até 15% a capacidade de aprendizado nos
estudos.
Quem faz
caminhada, ou qualquer outro exercício aeróbico, está contribuindo com sua
atividade de memorização, muito além do que possa imaginar!
7º Erro) Ele se
esqueceu de programar as revisões!
O último erro é
sempre o mais difícil de ser detectado. Perceberam que o livro de Direito, lá
em cima, foi escolhido aleatoriamente. Se a matéria do estudo foi
escolhida de forma aleatória, isso demonstra que não existe uma
programação! Não existe um planejamento! E quem não programa os estudos
não pode também, conseqüentemente, programar as necessárias revisões!
O amigo Leitor
acaso lembra como se desenvolve o binômio (a+b)2? Lembra? Assim:
(a+b)2=a2+2ab+b2.
O nome disso é produto notável. Um assunto normalmente estudado lá pelos idos
da sétima série. E como se explica que você, após todos esses anos, ainda
se lembre disso? Muito simples: em sua vida estudantil, você repetiu este
desenvolvimento dezenas de vezes. Talvez centenas. Houve um dado momento,
entre todas essas incontáveis repetições, em que seu cérebro, se falasse, teria
dito assim:
É... parece que
esse tal de produto notável é mesmo importante! Toda hora eu preciso estar
procurando ele aqui no armário. Melhor eu colocá-lo logo em um lugar bem
visível, para não ter trabalho e nem perder tempo procurando da próxima
vez!
É exatamente assim
que funciona! Se você fizer revisões programadas, estará informando ao seu
cérebro – e à sua memória – que aquele assunto é de suma importância. E que
precisa ser muito bem guardado, e em lugar de destaque!
Quem revisa os
seus resumos com freqüência está se mostrando grande amigo da sua própria memória!
É isso! Muito
ainda havia a ser escrito acerca deste tema, por ser inesgotável. Todavia, faço
votos que esse breve texto possa ajudá-lo a evitar alguns descaminhos, e a
encontrar soluções que o conduzam ao sucesso nos concursos, e na vida! Boa
sorte!
Fonte: Site LFG
Autor: Sérgio Carvalho
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