Pesquisar

Postagens populares

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

O enigma por trás das bancas: um ensaio interpretativo

          Bancas de concurso sempre foram algo que me despertou a curiosidade. Já antes de me tornar concurseiro, eu me questionava: que impenetrável mistério escondem esses “quase tribunais”, aparentemente tão poderosos? Que tipos de seres fazem parte deles? Seriam os elaboradores de provas gente de verdade, com alma e coração (e com mãe!), iguais a todos nós? Às vezes, ainda hoje, chego a pensar que não, não pode ser. Seriam talvez seres interplanetários, alienígenas? Ou nenhuma das alternativas anteriores: na verdade, as provas são elaboradas por supercomputadores, programados com softwares extremamente complexos, capazes de fazer bilhões de cálculos e criar milhões de questões por segundo. 
          A reforçar minha desconfiança de que os examinadores talvez não sejam humanos, está o fato de que eu jamais conheci um deles pessoalmente (e olhe que já conheci muita gente), nem mesmo ouvi qualquer relato mais ou menos plausível de alguém que tenha conhecido. Agora, boatos a gente ouve muito. O primo da mulher de um vizinho meu jura de pés juntos que manteve contato com um, alguns anos atrás, no interior do Paraná. Outros afirmam que existem vestígios da passagem de alguns deles pela cidade de Varginha, em Minas Gerais, durante a década de 90. Será?

          Depondo a favor da humanidade de tais entes lendários e enigmáticos, está o sem número de deslizes, erros e lapsos que a gente vê em inúmeras provas por aí. Só a natureza humana justificaria o rudimentarismo de certas falhas. No entanto, para os adeptos da teoria dos supercomputadores, isso apenas demonstra que os softwares nem seriam tão avançados assim e estariam saindo já pifados, com sérios defeitos de fábrica. 

          Existem também outras teses a respeito das bancas de concurso. Já vi quem defenda a teoria conspiratória de que essas entidades seriam sociedades secretas, com estranhos rituais de ingresso e de inspiração notadamente anarquista, que se reuniriam em porões, sempre nas madrugadas, com o fim de subverter sutilmente o conteúdo dos dispositivos constitucionais e legais, criando uma espécie de legislação alternativa. Os partidários dessa teoria possuem um vasto arsenal de afirmativas retiradas diretamente das questões de provas, que supostamente confirmariam os seus argumentos. Como, por exemplo:



As medidas provisórias não podem veicular matéria relativa a direito processual civil (Cespe - TRT 1ª REGIÃO - 2008)

Certo ou errado? Se você ler o artigo 62 da Constituição Federal, dificilmente chegará a outra conclusão que não a que a assertiva está correta. Lá, entre outras coisas, está escrito: “É vedada a edição de medidas provisórias sobre matéria relativa a direito penal, processual penal e processual civil”. Se o Presidente da República não pode editar, tampouco poderá veicular MP relativa a essas matérias. Certo? Mas na concepção ultra-fundamentalista-semântico-pragmática da banca, está errado. Não me pergunte por quê.



E esta: 

O Distrito Federal é chamado de Brasília e com esse nome constitui a Capital Federal (Esaf - CGU - 2008)



Certo ou errado? De acordo com o entendimento da banca, certíssimo. Isso é mais ou menos equivalente a dizer: O Maracanã é chamado de Flamengo e com esse nome constitui um time de futebol. Ou ainda: o PT é chamado de Lula e com esse nome constitui um partido político.

          Apesar de tudo isso, e deixando de lado todas essas especulações inúteis sobre a verdadeira natureza das bancas e sobre a procedência dos elaboradores, confesso que sou um árduo admirador deles. Sobretudo daqueles que criam as provas de Contabilidade. Esses “gênios” são os responsáveis por uma das mais comoventes e genuínas manifestações de criatividade de que tenho conhecimento na história do marketing corporativo. Se você andou tendo contato com as provas de Contabilidade nos últimos tempos, provavelmente deve ter reparado como eles são prolíficos na criação de denominações estranhas para empresas, nos enunciados das questões. Eu suspeito que eles fiquem fazendo aposta pra ver quem bola o nome mais esquisito, ou talvez recebam algum “adicional de inventividade”. Que outra coisa explicaria tamanha fixação? Duvida? Então, veja alguns exemplos retirados de provas da Esaf, nos últimos dez anos: empresa Méritus e Pretéritus Limitada, firma Experiência Experimental Ltda., empresa Vásculo(???!!!), firma Rinho Ltda. (esse deve ter apostado com algum amigo cognominado Marinho que tinha moral para colocar o nome dele na prova de Auditor da Receita, o qual certamente duvidou e acabou perdendo a aposta). Tem mais: empresa Desperdício S.A.Cia. de Comércio Zinho e, mais à frente na mesma prova, Cia. de Comércio Zão (imagino que, a essa altura, o examinador já estivesse de saco cheio de forçar tanto a mente). Há também os poetas: firma Campos Campestres Ltda., empresa Rosácea Areal Ltda., empresa Hélices Elíseas S.A., Companhia Cereais Sereias. Mas com certeza o mais inventivo de todos (e que “desbancou” os companheiros de banca) foi o elaborador da prova de Analista da ANEEL de 2006, que escreveu uma questão que começava assim: “No início do ano, a empresa Amont Uado S/A tinha patrimônio líquido de R$ 12.000,00”. Amont Uado S/A!!!!!! O cara quis afrancesar o termo e legou essa pérola para a posteridade. Se fosse uma Limitada, vá lá, mas uma Sociedade Anônima! Imagine a situação de um corretor da bolsa tentando vender ações de uma empresa com esse nome. 
          Se um dia realmente o Congresso se empenhar em criar uma lei que regulamente o concurso público, eu sugiro que, logo no começo, no primeiro artigo, seja colocado: 

Art. 1º - É vedado ao examinador editar nomes bizarros para as empresas nos conteúdos das provas de Contabilidade. 

Pensando bem, talvez não adiantasse muito. O examinador possivelmente iria interpretar: é, pode até ser vedado editar, mas veicular...


Autor: Professor Marchezan
Fonte: Site Ponto dos Concursos

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Escreva aqui o seu comentário para o Fit Concursos

Mensagem